Quando criança eu era a última a ser escolhida para o time nas aulas de Educação Física, talvez por ser a mais pequenina, magrinha e quietinha. Isso me fez odiar as aulas e os esportes (até hoje não curto). Não sei se vocês tiveram isso, mas na minha sala sempre tinha aqueles 'cadernos de confidência', e nunca me deixavam assinar, talvez por eu ser justamente a mais certinha, na minha e nunca ter me envolvido em nada muito maluco, então acredito que na cabeça do pessoal, eu não tinha nenhuma resposta muito mirabolante pra escrever no tal caderno. Isso me fez me sentir sem importância.
No pré, lembro claramente de ficar sozinha no recreio algumas vezes e eu sempre via uma menina muito bonita brincando pelo pátio, foi quando fui perguntar pra ela se ela gostaria de ser minha amiga e ela disse em claro e bom tom "NÃO!" e eu fiquei parada no pátio sem ninguém. O mais engraçado é que perguntei mais de uma vez se ela queria ser minha amiga e ela sempre negou. Essa situação me fez me sentir solitária.
Crianças são maldosas.
Eu fui a última do meu grupinho de amigas a aprender a ler. Enquanto minhas amigas tinham a letra bonita, eu precisei fazer caligrafia porque escrevia com muita força, além de ter a letra feia obviamente haha.
Dei meu primeiro beijo já tinha 16 anos, hoje isso seria considerado bem tardio.
Na faculdade praticamente não tinha amigos, além de estar num curso do qual eu não me identificava. Chorava quase todos os dias antes de ir ou quando chegava em casa de tanto cansaço de ter que estudar e trabalhar. Eu mesma me consolava.
Enquanto minhas amigas contavam como estava o namoro, os encontros com vários meninos e as aventuras por aí, eu apenas ficava quieta. Essa situação me causava muita angústia.
Por que será nenhum menino se interessava por mim? Será que sou muito feia, muito chata, muito burra? Qual meu problema?
Passei anos sem ficar com ninguém. Fui me apaixonar apenas com 25 anos por um cara que me trocou pela amiga dele. 'Perdi' a virgindade beeem tarde. Com um cara que deu em cima de uma amiga minha e me tratava como lixo. Tá aí um trauma que ainda carrego. Sentia muita tristeza sobre isso. Parece que além de sempre ser a última eu sempre era substituível e sem valor.
Sempre tem alguém melhor que eu.
Das minhas amigas eu fui a última a namorar, com 28 anos. Uma idade bem avançada. Ouvi inúmeros comentários maldosos ao longo da vida sobre isso.
Quando vai casar? Ainda não tem namorado? A vida passa rápido. Vai ficar pra titia. Deve ser ruim não ter ninguém.
Eu sempre dava um sorriso amarelo e entrava na "brincadeira", mas quando chegava em casa chorava e chorava por ter que ouvir esse tipo de coisa. Meu sonho desde criança sempre foi casar e construir minha família, talvez por isso esses comentários me machucavam tanto. Porque no fundo era tudo o que eu mais desejava. Sempre sonhei com o príncipe encantado. Para poupar um pouco de sofrimento, passei a dizer que eu não era romântica, que odiava essas coisas. Apenas uma maneira de driblar esses comentários maldosos. Odiava ver fotos de casais no feed, odiava quando chegava o dia dos namorados e fazia piadas com a data, dizia que eu tinha o coração de gelo e tava tudo bem.
Apenas uma armadura.
Via tantas pessoas felizes em seus empregos, realizadas com sua profissão escolhida e eu me sentia totalmente perdida, sem rumo, sem expectativas de encontrar algo que eu realmente amasse. E nunca foi falta de tentar. Eu nunca fiquei parada. Fazia o que estava ao meu alcance, sempre me esforcei, mas parecia que nada valia a pena. Mais uma vez, fui a última a me encontrar.
Depois mais um soco nas costas. Perdi o meu príncipe encantado, que convenhamos nem era tão encantado assim, para alguém melhor que eu. Perdi amigos. Perdi novamente a esperança. Meus sonhos ficaram mais uma vez distantes. E novamente me senti atrasada na vida.
A última a ser escolhida.
Eu sei que existe o tempo certo pra tudo, que o tempo de Deus não é o mesmo que o nosso e tantas outras frases motivacionais que já cansei de ouvir. No fundo eu acredito nisso. Mas sou humana e tem dias que o desânimo, a tristeza e a melancolia me acompanham e é difícil demais ver as coisas de outra perspectiva.
Estou cansada de ser a última. Estou cansada de nunca ser a escolhida. Cansada de ser a segunda opção. Cansada de me sentir atrasada.